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Em entrevista exclusiva, entre vários assuntos, Tizuka Yamazaki destaca a importância da realização dos festivais, para o público e para o desen- volvimento do cinema nacional. This photograph was produced by Agência Brasil, a public Brazilian news agency/Author=J. Freitas/ABr Em entrevista exclusiva, entre vários assuntos, Tizuka Yamazaki destaca a importância da realização dos festivais, para o público e para o desen- volvimento do cinema nacional. This photograph was produced by Agência Brasil, a public Brazilian news agency/Author=J. Freitas/ABr
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Cinema e autoestima

 

Tizuka Yamasaki, um dos nomes de maior projeção do cinema
brasileiro foi convidada de honra no lançamento da segunda edição do
Festcine Goiânia, realizado em 2006. Na época, ela filmava Amazônia
Caruana, baseado no livro O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do
Marajó, de Zeneida Lima e estava encantada com o trabalho.
Em entrevista exclusiva, entre vários assuntos, a cineasta destaca
a importância da realização dos festivais, para o público e para o desen-
volvimento do cinema nacional.
Trajetória marcada por sucessos, seu primeiro longa-metragem
de como diretora, Gaijin - Os Caminhos da Liberdade, de 1980, foi pre-
miado como melhor filme no Festival de Gramado, em 1980, e Menção
Especial pelo júri do Festival de Cannes, na França. Atualmente, dirige a
série As Brasileiras, da rede Globo e, entre os trabalhos na telinha estão
as novelas Kananga do Japão e Amazônia, e as minisséries A Madona de
Cedro e O Pagador de Promessas.


NT - O que representa para o cinema brasileiro a realização de um
festival de cinema em Goiânia?

TY - Eu acho que é muito bom para o realizador nacional que tem mais
um espaço para expor o seu trabalho. É muito bom para o realizador lo-
cal porque ele é incentivado a dar prosseguimento aos seus projetos com
cumplicidade do governo e cumplicidade das empresas locais.
O que acho mais importante ainda é você ganhar público. É o público
ter acesso à produção audiovisual brasileira e a formação de novas pla-
téias também. Então, ganha todo mundo. Ontem, quando fui ao cinema
municipal estava passando um curta daqui sobre a procissão do foga-
réu. Foi engraçado porque estávamos falando sobre o assunto, eu sem-
pre tive vontade de ir à procissão, fui estudante de Brasília...
Acabei vendo o filme... Aí fiquei pensando assim: olha que legal, uma pla-
téia de goianos assistindo um filme sobre um assunto da região. Muita

gente pode já ter visto e muita gente não. Quem não viu vai ficar com
vontade de ver e quem já viu vai ficar com o ego extremamente aquecido.
Acho que o cinema tem um poder de levantar a autoestima, o que é
muito bom. No momento que você coloca qualquer assunto numa tela
de cinema, você dá a este assunto um outro status. Um status de impor-
tância que ajuda a valorizar - não apenas a essa cultura local - como aju-
da a difundir essa cultura para outros estados, outros países, o que dá
à plateia local muito orgulho. Isso é muito importante. E o festival tem
esse papel, que é na verdade criar a autoestima.

NT - Como avalia o formato do Festcine que reúne com mostra com-
petitiva, universitária e de vídeos caseiros, além de oficinas?

TY - Olha, eu acho a programação do Festcine de Goiânia muito mais
rica do que as que tenho visto, porque ela atende ao produtor nacional,
à produção local, à plateia, à capacitação de mão-de-obra e é um serviço
à comunidade. Acho que é muito bacana mesmo.

NT - Os festivais pipocam Brasil afora, este fato está refletido na pro-
dução e na qualidade dos filmes brasileiros?

TY - Claro que se reflete. Talvez você não tenha um grande festival,
mas você tem vários festivais. Então, imagina... Uma plateia daqui ven-
do um filme que foi feito lá no Rio Grande do Sul, é uma novidade. As-
sim como de repente um filme goiano ser apresentado em um festival lá
no Pará. É genial, isso. Acho muito bom!

NT - A linguagem cinematográfica está sendo atualizada no Brasil?
TY- A linguagem vai de acordo com a produção e de acordo com o que
se passa no país. Não tem como não se atualizar, porque o cinema vai
sempre à reboque da sociedade brasileira. O cinema vai sempre a rebo-
que de sua comunidade.

NT - Qual a participação das mídias eletrônicas no processo de de-
senvolvimento do cinema no Brasil e no mundo?

TY - Difusão e troca de informações.

NT - E em relação à construção de linguagem?
TY - Isso é muito particular. Muito pessoal. É evidente que se o criador
usa da linguagem eletrônica para trocar informações, para trocar idéias,
para ter acesso às novas informações, para facilitar sua vida operacional.

NT- De que forma o público responde ao cinema brasileiro contemporâneo?

TY - Há alguns anos, eu já vi bilheteira de cinema, ou porteiro, dizen-
do assim “olha cuidado que esse filme é nacional”. Hoje, ao contrário,
eu vejo que a platéia se sente envergonhada se não acompanhou, se não
esteve presente num lançamento de um filme brasileiro. Hoje, ao con-
trário, eu vejo que o cinema brasileiro tem importância que não tinha
antigamente.

NT- A questão da distribuição ainda é crucial?
TY - Sim, é crucial. As distribuidoras são ainda as estrangeiras, não te-
mos uma distribuidora forte compatível com a produção local e há um
grande cardápio. E há falta de salas populares.

NT - Em qual projeto você está trabalhando atualmente?

TY - Estou implantando a produção de um novo filme chamada Amazô-
nia Caruana, lá no Estado do Pará, que será filmado na ilha de Marajó,
Belém, Ilha Mexiana, onde são minhas locações.
É história de vida de uma mulher extremamente interessante porque
ela é pajé, talvez a única pajé letrada da cultura cabocla. Ela tem um co-
nhecimento impagável sobre toda essa cultura raizeira, ela trabalha com
energia e acho que hoje ela emblematicamente é a grande defensora da
Amazônia, na natureza brasileira.
Eu acho que nós brasileiros que somos guardiões dessa Amazônia a gen-
te tem no mínimo conhecer. A Amazônia é desconhecida dos brasilei-
ros, conhecida apenas por um pequeno segmento, cientistas, ou até tu-
rista, mas na verdade desconhecido.
Para defender a Amazônia, você precisa amar este território e para você
amar, precisa conhecer. Eu como cineasta parti para apresentar um lado
da Amazônia, o lado mágico do universo da cultura cabocla.

 

*Esta entrevista faz parte do livro Incondicionalmente Livre, em breve, nas melhores livrarias do Brasil.

Última modificação em Quarta, 27 Janeiro 2016 11:35
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