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No Balanço do 11° Canto da Primavera de Pirenópolis

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                         No Balanço do 11° Canto da Primavera de Pirenópolis

Por Nádia Timm

                          Veio a Primavera e o Canto em Pirenópolis. Sol abrasador e chuva refrescante. O povo na rua, no teatro, no cinema, no coreto. Sobe e desce ladeira, é temporada de mergulhar na música.

                          Nada de politicagem das campanhas do segundo turno, TV desligada. Hora de ficar plugado em música. Seis dias de arte. Som para surpreender aqueles que acham que Goiás é só sertanejo.

                          O encontro começa embalado pela Banda Pequi. O maestro Jarbas Cavendish rege, abre alas para a alegria junto com Mônica Salmaso. Esta cantora maravilhosa não é um daqueles sucessos fabricados da MPB, é uma artista com a maiúsculo e com ela veio o Quinteto Pau Brasil, 32 anos de estrada. Foram o melhor presente do Canto.

                           Depois em outro palco, na sala de aula, em coletivas e papos com jornalistas, Mônica Salmaso canta mais e fala sobre as sementes que veio plantar e as que vai levar. Consciência é a palavra mágica. De corpo e alma há de o artista se auto conhecer, saber as possibilidades de sua arte, seguir consciente sua trajetória, ensina.

                             A programação do Canto inclui dezenas de shows. Cristiane Perné arrasa, Alice Galvão seduz, ou não, a la Diana Krall. Tem Bel Maia, Laércio Correntina, Marcelo Barra, Marcos Henrique e Santiel, Nilton Rabelo.  Sabah Moraes segura a onda da dor de garganta e traz  Clara Nunes no repertório.  E mais...  A incansável DJ Simone Junqueira, faça lua ou tempestade, embala a festa no palco da Rua do Rosário. Até a Orquestra de Câmara Goyazes e Dílson Florêncio estão no balaio, bravo!

                             Tem ainda Torre de Jamel, sons requintados, como Verônica Alde, na flauta transversal e o Cerrado Jazz Trio. Outros caipira sim, tipo Victor Batista, tremendo pesquisador e violeiro mineiro que veio morar há pouco em Pirenópolis. Um bálsamo. 

                              Tem espetáculo, é o Tal do Quintal mostrando a riqueza da cultura popular, com direção caprichada de Demétrio de Pina. E mais rock de goianos, instrumentais, samba, choro, pop, jazz, batuques. Cantores e pseudo cantores, artistas e quase artistas, válidas tentativas.

                                  Teve espaço para experimentados, experimentações e inexperientes. Os jovens nas aulas aprendem de quanta paixão é feito um músico.  Os maestros ensinam mostrando no palco, master class para o povo.

                         Qual a semente mais importante que o Canto da Primavera vai deixar, pergunto.  Linda Monteiro, presidenta da Agepel sintetiza: qualidade.

                          “A preocupação foi que este encontro de artistas proporcionasse aos goianos a oportunidade de contato como o que há de melhor da música e aos convidados com a produção local. Os frutos já surgiram. Um exemplo é o CD de Leila Pinheiro, que veio no ano passado, com a Banda Pequi”, diz Linda.

                            O pianista Diones Correntino que toca com o clarinetista e saxofonista Johnson Machado responde: “a troca de informações, de ideias, com músicos mais experientes foi o melhor que os alunos obtiveram. “E o ápice foi o show do Pau Brasil com a Mônica Salmaso. Não precisava de mais nada”, afirma.

                            Concordo com ele, muita gente concordou. O músico atento propõe que o próximo Canto seja conceitual. Alguns sugerem que esteja cada vez menos a mercê dos políticos. Neste rumo que Linda teve coragem e discernimento de levar.

                            Para Maria Nazian Brandão de Siqueira, ex-secretária de educação de Pirenópolis a principal semente foi “o nível alto dos artistas excelentes”, enfatiza. “O Canto da Primavera é muito importante porque o povo de Pirenópolis gosta muito de arte, principalmente da música”.

                              Isso a gente sente, percebe. Na platéia, no Teatro Sebastião Pompeu de Pina lotado dentro e fora para o show do Pau Brasil e Mônica Salmaso escuto o papo da galera. Um barbudo comenta admirado, “são todos maestros. Esse ali, o Paulo, tem até uma matéria especial sobre ele na faculdade. Olha, ele toca com palheta. Olha o jeito que ele toca, como se diverte, viaja na música. Olha que tesão ele tem de tocar”.

                              Depois, em entrevista, Paulo Bellinati, o violonista sensacional responde: “a semente é mostrar a dedicação que temos à Música. A seriedade. Nas aulas, abordamos tópicos como cuidar da carreira artística, como se preparar para tocar melhor, como estudar. As aulas foram voltadas ao processo de criação e tivemos vários níveis de alunos. O músico pode ser muito feliz se não houver grandes expectativas, poucos tocam no Carnegie Hall. É não sonhar alto, não cobrar tanto da Música, simplesmente ser feliz com ela”.

                               Veio gente de Anápolis, Brasília, Goiânia. Quem não conseguiu entrar no Teatro ou no Cine Pireneus correu para o palco na Rua do Rosário. Lá embaixo, Juraídes da Cruz, amado e considerado um dos melhores da terra, está tocando. Ele mais Gustavo Veiga. Pena que ótimos shows coincidiram no horário e dia. O público reclama um pouco e comemora muito pelas ladeiras de pedra, na madrugada quente e perfumada.

                              Aulas e shows, aulas-show, incrível aprender com Marco Lobo, ele mesmo, o percussionista que tocou com Lenine, Titãs e Caetano. E também ouvir aqueles senhores, às vezes irritadinhos, brigando com a produção, mas brincando também, sempre geniais do Pau Brasil. Alguém comenta: “vi esses cara tocarem juntos há 27 anos, ainda eram cabeludos. Repara a liberdade e a cumplicidade com que tocam”.

                                Durante a semana, a multidão aos poucos invade Piri, uns vieram para o rock da Trivoltz, Radio Carbono, Diego e Sindicato, outros para a serenata com os Trovadores dos Pirineus, batuque da Umbando e acordes da Triêro. Tem o improviso do sofisticado Duo 13, com Hamilton Pinheiro e Félix Júnior, de Brasília. Há tempo para a cachoeira, provar a manga do pé, o caju, os doces, a comida no fogão a lenha, caipirinha, pinga de engenho.

                                Teco Cardoso, saxofonista e flautista do Pau Brasil amou o Canto e lembra o sentido de vivenciar as delícias do lugar: “É muito legal. Deixa uma semente e leva outra. São duas vias. Também vou levar este sabor de Pirenópolis para a minha música. Saio daqui feliz porque conheci gente talentosa que vai virar músico. Eu frequentei muitos workshops como aluno e sei o quanto é importante”.

                                  Rodolfo Stroeter, baixista e produtor musical, considera que o grande legado do Canto é “principalmente estimular os alunos e o público a ouvir. O aluno a perceber este caminho possível e, eventualmente, a se decidir a se desenvolver”.

                                Jason Elias, natural de Pirenópolis, baterista da Trivoltz, comenta: “Hoje em dia o que rola é baixa qualidade. Eles vieram de longe para ensinar o que música de qualidade e acho que isso fica com os alunos”.                     

                               O maestro Jarbas Cavendish que participou da seleção das atrações observa o quanto há de se investir no processo para que haja desenvolvimento e para que problemas estruturais sejam sanados. Otimista, lembra o oásis que é a Universidade Federal de Goiás e os talentosos músicos goianos que tocam mundo afora. Entre os frutos? Que tal uma Banda Piri, prima da Pequi? Quem sabe algum projeto com o Quinteto e a Mônica?

                         Um flash no palco do Rosário. A cantora Cláudia Vieira comovida agradece: “É uma cena cultural maravilhosa”. Outro flash, nos bastidores: Zélia Duncan, implacável com a imprensa, em seu camarim, resume o que significa o Canto da Primavera. ”Mostra o que acontece no Brasil, os ritmos, a diversidade que o país tem. Conheço Pirenópolis desde a adolescência e é uma referência de onde se pode se sentir livre”.

                          Pepeu Gomes também se encantou.  “Pirenópolis, parabéns por este evento. Quero voltar e ficar um mês, conhecer as 70 cachoeiras”, promete à multidão. A guitarra gemeu, gritou e o público cantou e dançou junto. Velhos hippies e jovens descolados nem perceberam o chuvisco, na noite de encerramento com Morais Moreira e a Chocolate Groove Band.

                                 No meio do público há um senhor respeitável que não perdeu um espetáculo, algumas vezes de olhos fechados, de boca aberta. Ele também curte um som. É Pompeu de Pina, diretor da centenária e famosa Banda Phoênix de Pirenópolis, feliz, extasiado.  Para a entrevista está desperto e é convicto.

                                “Gosto de tudo em música. Tudo tem seu lugar. O evento progrediu muito com a Linda Monteiro. Cresceu muito em qualidade. Há necessidade de evolução e ela deu este toque muito bonito. A música não é estática e agora este encontro deu um salto bom. Goiás e o Brasil precisam do Canto da Primavera”.

                                 E, para encerrar este balanço, que ressoe a voz e a sensibilidade de Mônica Salmaso. “O Canto da Primavera é lindo, uma troca de experiências. É inspirador. Tomara que façam milhões de Cantos”. 

                                 Assim seja.

 

Pirenópolis, 25 de Outubro de 2010.

Última modificação em Sábado, 13 Janeiro 2018 21:09
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