Há sempre outras possibilidades, outros caminhos, acredita uma artista
japonesa, chamada Hideyo Blackmoon, uma DJ super conhecida na
cena Clubber, nas Trances e festivais internacionais.
Em uma outra onda, ela desenvolve a proposta de meditação em
embalos sem drogas ou violência que começou a ser praticada nas festas em
um templo budista no Japão, na primeira década do século 21. Em 2009,
ela esteve no Brasil para descansar em Pirenópolis, uma cidadezinha histórica
do interior de Goiás e concedeu uma entrevista exclusiva para a eNT
revista eletrônica.
No bate-papo, falou sobre a essência de seu estilo, sobre o que significa
a Dance Meditation que inventou e porque é conhecida como Xamã.
Ela estava animada, na véspera de lançar seu primeiro álbum, o Blackmoon.
Hideyo Blackmoom é espiritualista. Com sua sensibilidade artística
vivencia e estimula no que há de sutil e belo das pistas das baladas. Ela
considera um ritual este tipo de encontros da juventude e quer que a Dance
Meditation promova a felicidade. “Para fluir alegria profunda e a paz em
todos que curtem a pista”, diz. Para Hideyo, a Cena é um culto à vida, à
natureza e a dança uma forma de rezar.
NT - Como veio parar em Pirenópolis?
HB - Quando decidi vir ao Brasil contactei Gleu Vargas, uma artista goiana,
com quem tive uma linda conexão de alma ao conhecê-la no festival Boom
de 2006 e 2008, em Portugal. A princípio, só queria visitá-la em Pirenópolis
e, depois, conhecer Alto Paraíso que é um lugar espiritual.
NT - O que a trouxe ao Brasil?
HB - Eu já queria vir há alguns anos, tinha a oportunidade de tocar no
Universo Paralelo, e outros, mas finalmente decidi vir sem me preocupar
muito. Queria ficar perto da natureza. Felizmente, meu amigo Max do Ét65
nica , músico de Psytrance, organizou o CELEBRA Brasil e me convidou
para ficar na casa dele em La Balsa, na Bahia. Ele organizou uma festa onde
toquei e arrumou para eu tocar na área de Trancoso.
NT - Quais são os principais ingredientes de seu repertório de DJ e de
vocalista? Qual a essência do seu estilo?
HB - Meu estilo é baseado em Ambiente e Dance Music com uma influência
xamânica. Também sou influenciada pelo que me rodeia, minha geração
musical, festas, natureza e cidades. Também já toquei Lealing Music,
Chillout, ambiente Eletro Techno Spytrance.
NT - Como é o seu processo de criação?
HB - Eu tenho um estilo de vida nômade e crio muito com a situação que
estou vivendo no momento, às vezes crio com outros músicos, me inspiro
com a atmosfera de onde vim, gente, lugares.
NT- Por que você é conhecida como Xamã?
HB - Eu não sei, só toco o que sinto. Algumas pessoas só conhecem depois
de me ouvir como DJ ou cantando. Depois me dizem como minha música
trabalhou neles, daí me chamam xamã, curandeira, etc.
A música por si só já é uma grande medicina para alma. É perfeita, é o que
penso. Na minha opinião, também depende de quem toca a música. A personalidade
influencia na música, porque é pura e simples energia. Minha
personalidade, minha música mais a energia do público, é isso o que toca
as pessoas.
É por isso que eu cuido do meu corpo, do meu coração e do meu espírito o
máximo que é possível. Talvez não o suficiente como os trabalhadores espirituais,
mas faço o meu melhor para que esteja sempre feliz e cheia de paz.
NT- Como você concilia Yoga e Música?
HB - Eu tive experiências do público com grande unidade de consciência
na pista, no final da década de 90 e também em 2001, na cena Trance. Essa
experiência me levou a fazer música. O que eu entendo é que quando muitas
pessoas meditam ao mesmo tempo, essa energia faz com que as pessoas
se tornem uma unidade.
NT- O que representam as festas Trance das quais participa, no mundo
inteiro, para você?
HB- Desde a antiguidade, nós humanos celebramos ou rezamos aos deuses
da natureza com a dança. A cena Trance é o mesmo, somos uma tribo, uma
família. A cena foi um grande portal para mim. A idéia de vida comunitária
sustentados pela natureza, um estilo de vida simples e ecológico.
NT- De quais bandas você foi vocalista?
HB - Desde 1999 a 2002, eu criei e me uni a muitas bandas no Japão. E tive
algumas vezes, seções tocando com bandas ou músicos muito loucos por
onde eu passei. Mas já não faço muito desde 2003. Agora estou curtindo
fazer algo com uma banda portuguesa chamada Tjak.
NT - Participar da fundação do clube alternativo Bullets e do maior clube
de Chillout de Tóquio, o que significou para você?
HB- Quando eu criei o ambiente do Club Bullets era no centro da cena em
Tóquio. Era uma cena de Chillout em festas Trance, mas não era regular,
com muitos músicos, artistas visuais, organizadores, amantes de música se
encontravam lá. Naturalmente, novas festas foram aparecendo e todas as
noites alguma coisa acontecia e eu comecei a tocar muito nessa época.
Minha capacidade musical melhorou, alguns novos estilos de Club surgiram e
Dj Booth se tornou popular, Dj Booth e bar, tudo junto, era final de 2002.
Nesta época, um amigo da cena fez o maior Club em Tóquio, chamado
Ageha. Ele me pediu para criar a parte do Chillout. Logo depois este espaço
virou estilo livre.
Fiz muitos contatos com artistas e também muitos da cena me visitavam.
Pude conectar com povos de cenas diferentes e eu me divertia muito. Fazer
coisas boas que acontecerem na cena foi muito importante para mim.
Agora criei um novo estilo de festa, influenciado pelas aulas de práticas
com amigos, chamada Dance Meditation, em Tóquio. Há algumas regras,
seja pontual, não fumar, não beber álcool, não bater papo, o sistema é de
reserva, o local é um templo budista japonês subterrâneo.
No começo, e no final da festa, tem uma cerimônia com uma menina Xamã
e um monge budista. É muito interessante, as pessoas se encontram nestas
festas e eu amaria espalhar Dance Meditation por todo o planeta.
NT- Quais as perspectivas da música eletrônica?
HB - Como eu já havia respondido na questão anterior, eu não consigo
mais ter boas experiências hoje em dia, bater papo. As pessoas estão mais
interessadas em beber álcool, etc. Agora eu mantenho meu foco em trabalhos
e pessoas espirituais. Porque a cena da música eletrônica não é mais
interessante para mim agora, mas a música eletrônica é fantástica.
NT- E sua agenda para o Brasil? Há novidades?
HB - Eu estava em La Balsa, na área de Arraial da Ajuda, Chapada Diamantina,
Capão, depois vim para Goiás, Pirenópolis, agora estou em Goiânia,
depois vou para Alto Paraíso, Brasília e, finalmente, São Paulo.
NT- E no circuito internacional, quais são seus planos?
HB - Eu vou ajudar com o festival de eclipse solar no Japão, no verão. Depois,
não sei quanto tempo fico por lá. No final do ano, quero voltar para o
Brasil para o festival Universo Paralelo, etc.
NT - Algum recado especial para os seus fãs?
HB - Obrigada pela entrevista e eu espero que o Universo traga muita paz,
abundância, felicidade, saúde e amor. Meu primeiro álbum Blackmoon talvez
saia no final do verão europeu, tenho esperanças. Você vai gostar!
Esta entrevista faz parte do livro "Era Uma Vez....... Outra Vez....... mais uma vez .......e mais outra.......", de Nádia Timm