Artista versátil, atua como cenógrafo, designer, artista gráfico, arquiteto, diretor de videoclipes e diretor de arte.
Assina excelentes projetos de capas, cenografias e figurinos para espetáculos de música e artes cênicas. Entre as estrelas, estão nomes como Deborah Colker, Chico Buarque, Rita Lee, Skank e Intrépida Trupe. Trabalhou com Antônio Abujamra e José Celso Martinez Corrêa e até as vitrines da H. Stern pelo mundo ganharam o toque de sua sensibilidade.
Em 2005, Gringo Cardia, profundo conhecedor da cultura e das expressões brasileiras e um dos nomes mais respeitados da cena artística, criou a mostra Amazônia Brasil, que apaixonou milhares de parisienses. Era o Ano do Brasil na França.
Quando a exposição foi apresentada em Minas Gerais e destaque no IV Festival da Vida, em Mariana, de 12 a 19 de maio de 2007, Gringo concedeu esta entrevista exclusiva para a eNT Revista Eletrônica. Depois, Amazônia Brasil prosseguiu encantando pelo mundo.
NT - Qual a concepção da exposição Amazônia Brasil?
GC - Minha concepção foi passar a magia da diversidade da floresta e de tudo o que muitas pessoas estão fazendo a favor da preservação da Amazônia. Muitos projetos existem e muita gente não sabe. Quis juntar o nosso maravilhamento com esta imensidão saúde da floresta. Mostrar a vida e a morte da floresta dependendo da atuação de cada pessoa do Planeta.
NT - Como foi o processo de criação da mostra?
GC - Viajei bastante pelo Amazonas junto com o Projeto Saúde e Alegria, que me convidou para fazer esta exposição. Tentei ver de tudo para mostrar uma coisa impossível de se mostrar. Trabalhamos muito com o ponto de vista dos projetos positivos. Procuramos ter a participação dos caboclos e artistas locais ao máximo para fazer uma exposição mais viva e verdadeira do ponto de vista de quem vive lá. Fizemos uma maquete do projeto e ocupamos seis mil metros quadrados do SESC - Pompéia, em 2002. A partir daí, foi uma sucessão de novas montagens sempre adaptadas a novos índices e realidades. A exposição se transforma o tempo todo.
NT - Como sintetiza a diversidade e discute a importância desta floresta na mostra?
GC - A diversidade é sintetizada em uma mesa de sementes imensa, onde as pessoas podem ver e tocar vários tipos de sementes que existem lá. As pessoas deliram com isso e, principalmente, as crianças percebem que o mundo é feito de muito mais coisas que eles conhecem. A importância da floresta vem logo após o encantamento que ela pode te provocar. Temos um conteúdo riquíssimo de dados reais de quem trabalha e vive dentro da floresta.
NT - Quais elementos estéticos são essenciais para compreensão da importância da Amazônia?
GC - É muito difícil representar uma floresta. O cenário mais difícil que eu já fiz foi tentar imitar uma árvore verdadeira para o Balé da Cia. Deborah Colker. Penei e custou uma fortuna. Imagine então representar a força estética da Floresta Amazônica! A única maneira que achei foi fazer uma floresta em miniatura em que as pessoas pudessem ver uma dimensão de verde e quanta coisa colorida está atrás deste verde. Animais, pessoas, culturas e, principalmente, respeito à natureza. Você tem que se deixar levar pelo encanto de encontrar tanta coisa linda atrás de toda esta mata.
NT - Paralelo ao trabalho educativo, de revelar uma região, de que forma tratou a questão artística?
GC - Tratei de uma maneira a fazer uma junção do científico com o humano e biológico. Usamos fotos de satélite que mostram a floresta como um corpo cheio de veias/rios que serpenteiam o corpo/floresta e dentro de cada pequena floresta, e de cada pequena árvore, um outro universo de sementes, animais e cores. É o universo dentro da mata. Quis fazer um confronto entre escalas, mostrando as várias faces da floresta.
NT - Seu trabalho é marcado por parcerias com artistas que desenvolvem a linguagem contemporânea, de vanguarda. Em Amazônia Brasil como lida com a sofisticação e a necessidade de comunicar e interagir com o grande público?
GC - Sempre fui um artista versátil que procura aprender com suas parcerias. Acho que o trabalho da gente fica mais vivo quando você faz de coração. É com essa força e a vontade de mudar o mundo que a gente mostra a Amazônia, que muita gente não conhece direito. Para mim é uma mistura de didatismo e encantamento, tentar fazer com que as pessoas se interessem pelos dados através do encantamento. Gosto da arte popular e da maneira como as pessoas encontram criativamente de sobreviver com dignidade e beleza. O papel do artista visual numa exposição como esta é mostrar a beleza nas pequenas e grandes coisas. Da caneca do caboclo à árvore de 50 metros. As pessoas se emocionam vendo estas coisas simples sendo mostradas através de uma ótica diferente em um espaço de espetáculo da exposição.
NT - Na Amazônia, o que te impressionou?
GC - Me impressionou a majestade da floresta e a imensidão de uma região virgem, onde a natureza é que domina o homem e não o homem que quer dominar a natureza. A grande deusa-mãe, verde. Me impressionou o respeito que os povos da floresta tentam ter com a natureza e de como centenas de projetos se dedicam a mostrar ao mundo a importância de se preservar este território. Estas pessoas estão ali arriscando as suas vidas em detrimento de mostrar ao mundo que é possível manter uma região com um desenvolvimento sustentável,
mais lento, mas conscientes de futuro e respeito do que campos de soja, hidrelétricas sem estudos de impacto e estradas aniquiladoras.
NT - Na Europa, como a exposição repercutiu?
GC - Foi muito legal ver aquelas pessoas colocando as mãos nas sementes. As pessoas viajam no espaço através do tato. Ficam muito curiosas com tudo e leem muito. Nossa exposição foi a mais visitada no ano da França Brasil. Ficamos em Paris e quase 200 mil jovens visitaram a floresta.
NT- E no Brasil?
GC - No Brasil é impressionante como as pessoas não conhecem a Amazônia. Todos se emocionam também e pela exposição dá para perceber como as pessoas se sentem distantes daquilo. A exposição tenta quebrar esta barreira e acho que tem conseguido. Muita gente já se engajou com trabalhos positivos e ela é um trabalho formiguinha de uma consciência crítica de que precisamos cuidar da nossa floresta.
NT - O olhar do brasileiro enxerga a dimensão da floresta?
GC - Não consegue ver a dimensão.
NT - De que forma a arte, em suas mais diversas expressões, tem colaborado para ampliação da consciência ecológica?
GC - Acho que você trazer para o palco do espetáculo, da exposição, coisas naturais, dá um valor diferente a estas coisas e faz as pessoas perceberem a riqueza de estética e vida que está atrás da diversidade. A arte transforma a percepção das pessoas e permite assim que você entre no assunto através da sua sensibilização. Sentir a floresta é vivê-la.
NT - E o Festival da Vida, qual o papel deste evento numa sociedade sem valores humanistas? Ele representa uma utopia? Qual sua opinião?
GC - Acho fundamental a busca das utopias. Só elas podem salvar o Planeta. Acho que as pessoas mais conscientes do Planeta estão ligadas em formar uma rede de propagação de experiências positivas. Em momentos de escuridão é que florescem grandes pensamentos. O Festival é maravilhoso, pois tenta agregar estas pessoas e difundir uma esperança para a vida.
NT - Onde mais Amazônia Brasil será vista?
GC - Estamos montando uma exposição paralela a esta no parque Bavaria próximo a Munich que será inaugurada pelo presidente alemão, depois seguiremos para Berlim e, ano que vem, temos agenda para a Inglaterra e Estados Unidos e Japão.
NT - Em que projetos você está trabalhando?
GC- Tantos que nem me lembro de todos. Vou listar, Ok? Afroreggae, direção de arte e cenografia, Londres e Hannover; Deborah Colker, Companhia de Dança, em Berlim e Londres; Capa do CD de Vanessa Da Mata; Capa e novos trabalhos de Maria Bethânia; Cenografia do show de Ana Carolina; Exposição Estética da Periferia, em Recife; Prêmio TIM de música; Estande Sebrae Fashion Rio; Peça de Pedro Cardoso, Os Ignorantes, em Londres; mostra do meu trabalho no Rio de Janeiro, em setembro, Minhas Escolas, ONGs SPECTACULU e Oi Kabum, no Rio, e muito outros menores, ou nem tanto...