sentindo tuas canções
abrirem meu olhos
para as cores imersas no mundo
esquecer o cinza
desta esquina
no coração da máquina
abrir os olhos
seguir sonhando
persigo tua boca
engole minha língua serpente lasciva
mordo o sol da tua garganta
mergulho
em frestas
em rios
caminhos de sangue, lágrima, esperma
cios do corpo amado
quero entardecer contigo
sentindo teu olhar
e abrir meu coração
para as coisas do mundo real
esquecer o avesso,
o templo submerso
onde anestesio a alma
e renego as dores do mundo
abro os braços
e a paixão não cabe
pressinto teus dedos
no espelho gelado
brilham garras
tocam meu rosto
[ e não ferem ,
delicados véus,
transparências
chuva ]
quero amar o tempo medido,
o ritmo humano
o instante da espera
Farei um poema nesta tarde fria,
entregarei palavras ensolaradas
azul e amarelo
escorrendo pelas ruas
te ofereço
meu gemido
sem agonia
passos passos passos / lá fora
e aqui, deste lado,
no coração desta mulher tão só
tua imagem é poesia
absurdo poema bêbado
ciranda de estrelas
vertigem e vôo
quero morrer contigo
sentindo a noite
o mistério de nossos gozos perenes
abrir meu corpo
para teu corpo
maior-melhor que o mundo
faminto de coisas
no ventre giram galáxias
olho fixo na tela
explodindo quereres
e depois?
depois flutuaremos sobre todas as cidades
figuras de um sonho de Chagall
Este poema faz parte do livro Poesia Disponível para Aventuras, de Nádia Timm