Arquipélago da Madeira

Arquipélago da Madeira

Destino exibe suas raízes em patrimônios históricos e monumentos fascinantes. // Famoso por ser um dos mais belos do mundo, o Arquipélago da Madeira é rep...

Suíça, de trem

Suíça, de trem

Um passeio imperdível pela Suíça com o Grand Train Tour

Lan Lanh

Lan Lanh

Lan Lanh sobe aos palcos do Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro, para apresentar o show "Batuque da Lan Lanh" nos dias 2, 3, 4, 5, 9, 10, 11 e 12 de junho. ...

A Nave Obra de Rubem Valentim
Publicado em Crônicas Di-Versos
Lido 2113 vezes
Avalie este item
(1 Voto)

Está sentada na praia, de frente para o mar para ninguém perceber a expressão de seu olhar.

Nas profundezas, um peixe enorme, dentuço, prepara o ataque.

Há luar, brisa suave, fogueira, risos. Sentada de costas para os jovens que cantam e brincam, Zunim não sabe do predador, não sente o vento brando, não repara nas estrelas, nem no fogo, não escuta as risadas. Ainda está sob o efeito da visão.

Sente dormência nas pernas, muda de posição. A sensação continua e não há espaço para o pensamento, nenhuma lógica. Como falar sobre aquilo, se o que viu é diferente de tudo que considera real, se é algo extraordinário, estranho, esquisito. Quando tenta contar, parece uma mentira, ficção de filmes, um sonho.

Viu mesmo a imensa nave de luz pairando nos céus. Muitos viram, mas não aceitam e logo inventam explicações, conseguem esquecer. Não vão admitir que, pela primeira vez, nossa civilização tenha feito contato visual, em massa, com outros seres. Zunin cisma enquanto caminha de volta para o grupo.

Continuou calada, a beleza da noite contagiava a todos, a maioria era de enamorados entregues às carícias das preliminares sem timidez, afinal eram amigos e tão jovens e alegres. A moça não se deixa envolver pelo momento para liberar impulsos sexuais. Acha aquilo tudo ridículo, primário. Sorri da ideia, “ainda dizem que eu sou a louca”.

Aos poucos, seu humor voltava, porque levaria a ponta de faca, como dizia seu avô gaúcho, o que os outros estavam falando ou fazendo. Não se importava com eles, seu tesão é outro.

Voltou sozinha para casa, há duas quadras da praia. Precisa consultar o tarô e a bola de cristal. Acende um incenso, abandona os pensamentos e visualiza como quem assiste a um programa de televisão.

As cenas ora lembram uma pintura de Bosch, o Jardim das Delícias, com minúsculos seres nus, lindos em cópula, numa orgia sem culpas, ora o Inferno de Dante, se debatendo de angústia e medo.

Mas Zunin não conhece nada de arte, muito menos de literatura, muito menos ainda sobre fazer amor. Sobre as imagens azuis e rosas paira uma luz.

É a nave.

Via claramente e sentia como se diluísse, numa sensação de intensa paz. Foi dormir e teve sonhos calmos onde surfava uma imensa e interminável onda.

Na manhã seguinte, a vida seguiu seu ritual cotidiano, marcado pelos hábitos e alguma solidão. Encontrou com a turma na praia morna, no final da tarde.

Alguns estavam abatidos, com a aparência de doentes, pálidos, reclamando de dores pelo corpo. Não comentaram a noite anterior, estavam cansados demais. Zunin tentou falar sobre a nave novamente, mas o assunto caía no vazio, como se não escutassem, talvez o link estivesse bloqueado.

Não era a primeira vez que se sentia incomunicável. Cansou e foi para casa se enfurnar no computador, catar figurinhas de amigos nos Orkuts, o álbum de figurinha silencioso, no web passatempo, a sensação desagradável continua. A carta do Nada no Tarô Zen de Osho significa potencial, onde vibram as possibilidades, mas Zunin não conhece, nem o que quer dizer este Nada na sua sorte, no jogo da sorte que fez na madrugada. Ela viu a imagem, mas não alcançou o significado. Só conseguia sentir que no fundo de sua imensa, abissal angústia havia algo que estava para nascer.

Talvez tenha chegado o momento de conhecer a verdade, a delicadeza do amor, e este pensamento a faz abrir o sorriso, seus olhos faíscam.
Alguma coisa sagrada, essencial, está próxima, sente Zunin. A nave de luz e as experiências sensoriais seriam sinais, acha. Vai para o jardim ver a Lua cheia, a noite está bonita pontilhada por estrelas. Escuta o telefone chamar.

É a amiga Tatiana, ela quer que conheça uma pessoa sensacional. É pra já, Zunin tecla os números e desliza na correnteza. Três, dois, um... O contato imediato em alto grau de amor e prazer, em breve, vai transformar sua vida em divinas ondas de gozos, para sempre. Sim! É sim, o Ser a encontrou. Zunin vai começar a acordar para as fascinantes verdades da vida.

 

*Esta conto faz parte do livro "As Novas Histórias de Amor", de Nádia Timm.

Itens relacionados (por tag)

Última modificação em Domingo, 10 Julho 2016 22:02
Mais nesta categoria: Noivos de Chagall »

Deixe um comentário

Mais lidos

MULHERES / MUJERES

MULHERES / MUJERES

25 Jan 2019 Livros

Tradição dos Manjericos

Tradição dos Manjericos

23 Jun 2016 Turismo

Suíça, de trem

Suíça, de trem

31 Jul 2017 Turismo

Na Ponta do Nariz

Na Ponta do Nariz

06 Jun 2016 Artemania

Lan Lanh

Lan Lanh

29 Mai 2017 Palcos e Platéias

Acompanhe no Facebook

Online

Temos 67 visitantes

Add to Flipboard Magazine.