Paris Não Acaba Nunca, de Betty Milan.
Nádia Timm
O livro Paris Não Acaba Nunca reúne crônicas de Betty Milan que circularam no Jornal da Tarde e foi publicado pela primeira vez em 1996.
Fez tanto sucesso que teve várias reedições, com mais de 25 mil exemplares vendidos. Conquistou os franceses, encantou tanto Jacques Chirac, ex-prefeito de Paris, que se tornou brinde da Air France.
E olha que isto é sensacional quando lembramos que a autora Betty Milan é uma brasileira e que não é só Paulo Coelho quem conquista fama no exterior e se torna símbolo da literatura contemporânea brasileira.
Agora é a vez dos chineses se renderem ao olhar encantador de Paris Não Acaba Nunca que acaba de ser publicado lá.
Quanto a nós - seus conterrâneos e outros irmãos de idioma - podemos aproveitar esta quinta edição na qual Editora Record capricha na forma, com um belo projeto visual assinado po r João Marcelo e capa de Luiz Stein, para reler, indicar a leitura e presentear os amigos mais queridos.
Capa prateada, título em relevo, 159 páginas prontas para nos deliciar com este roteiro poético, ultra sensível, numa linguagem capaz de nos levar a viajar pela alma de Paris, muito melhor do que qualquer guia para turista.
Adorei a abertura de Betty Milan que oferece a obra “Aos que sabem errar” e também o formato do texto sem letras maiúsculas e distribuíndo as frases por parágrafos, sem ponto final.
Uma ousadia compatível, afinal você vai mergulhar na Paris de Hemingway, uma cidade onde o exílio é uma pátria e o quartier, uma aldeia na metrópole.
Vai curtir uma Paris literária como o Rio de Janeiro é musical, saber o quanto o artista se identifica com Paris... E acredite, há ditadura da moda, há resistência ao novo, nesta cidade que consagra os escritores.
Você passeia com Betty e descobre que passear é fundamental e que uma rua é mais hospitaleira do que a casa e o bar uma extensão da casa, porque nela quanto menos, melhor.
Depois, olha com ela a Place des Voges, viaja em Paris, conclui que o Sena é um rio que separa sem dividir. Andando de noite, flanando com a escritora , vai à uma rua que faz sonhar.
Tem ainda as cores, texturas e composições da arte da charcuterie, da padaria, da crèmerie, do mercado, da gastronomia.
Paris incita o olhar e você descobre o prazer e a beleza de um Square. Ãham o que? Quer saber? Está no livro.
E não é que Paris é uma cidade pudica?
Claro,que também entre os assuntos estão o cemitério do Père-Lachaise, as catacumbas, o metrô... Mas é Paris por dentro.... e por cima!
Para finalizar um adieu a la Betty Millan. Uma evocação linda, lembrando a festa do encontro de civilizações que eternizam Paris. Confira.
Trecho
“Paris não chama ninguém, mas deixa supor que o faz; desde sempre se deixa cantar é uma grande dama, não vive sem a trova e o trovador dama e manancial, ela é uma ilusão sem a qual o Ocidente não existiria e é certamente por isso que, malgrado a ordem de Hitler, não foi explodida pelos alemães...”
Quem é Betty Milan
Nasceu e se criou em São Paulo. Formou-se em Medicina pela FMUSP e em Psicanálise na França com Jacques Lacan. Fundou com Magno Machado Dias o Colégio Freudiano do Rio de Janeiro.
Autora de ensaios, romances, crônicas e peças de teatro.
Escreveu três ensaios: Os bastidores do Carnaval, trilíngüe, com três edições, O país da bola, publicado no Brasil e na França, e o polêmico E o que é o Amor?, com dez reedições.
Autora de cinco romances: O Sexophuro, O Papagaio e o Doutor, A paixão de Lia e O Clarão. O Papagaio e o Doutor foi editado também na França e na Argentina.
O Clarão foi finalista do prêmio Passo Fundo de Literatura e O Amante Brasileiro foi indicado para o prêmio Telecom.
Além dos ensaios e dos romances publicou um livro de crônicas com o título Paris não acaba nunca. O livro foi bestseller no Brasil e depois foi editado na França e na China.
Escreveu ainda quatro peças de teatro: Paixão, encenada por Nathalia Timberg na maioria dos estados do Brasil e depois editada em CD. A Paixão de Lia lida na Folha de São Paulo por Giulia Gam e José Celso Martinez Correa.
O Amante Brasileiro, encenada por Ricardo Bittencourt e Luciana Domschke no Teatro Oficina. Brasileira de Paris lida no auditório da Folha de São Paulo com direção de Marcelo Drummond por Luciana Domschke, Silvia Prado, Ricardo Bittencourt, Fransérgio Araújo e Aury Porto.
Fez uma primeira incursão bem sucedida na literatura infantil com A Cartilha do Amigo ,adotada pela Secretaria de Educação de Goiania e de São Paulo.
Colabora na Folha de São Paulo desde 1979. De 1993 a 2003 no Suplemento Mais, entrevistando escritores e intelectuais europeus. As entrevistas foram reunidas em dois livros, A Força da Palavra e O Século, premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Em 2005 tornou-se colunista da Folha de São Paulo, respondendo a questões de leitores na coluna Fale com ela.
Foi convidada de honra do Salão do Livro de Paris, cujo tema foi o Brasil e trabalhou ativamente para o Parlamento Internacional dos Escritores — sediado em Strasburgo – intermediando a transformação da cidade de Passo Fundo em Cidade Refúgio.