Era um artesão sem talento, mas se achava o rei da cocada preta, que era deus do pós-modernismo brega. Achou tanto que o Carioca logo concluiu que era hora de cair fora.
O campeão de luta livre grudou nele. Cismou que era poderoso no gancho de direita. Jurou que era infalível, implorou patrocínio... E um beijinho, diziam as más línguas.
O Cara nem precisou dar um basta. O campeão amarelou, fugiu do ringue, uma semana antes da luta do século, na capital do brejo.
Na repartição, os puxa-sacos quebraram a cara. Não puxaram o suficiente, foram parar no olho da rua.
Na passarela, a magrela levou um susto. Caiu do salto, de saia justa. Tombo feio, sob flashes e flechas de olhares invejosos.
O Carioca foi a pedra no caminho. Não pediu o teste do sofá para o qual havia ensaiado tanto.
A magrela estava insegura quanto à gostosura de sua perereca.
A menina só queria namorar. Mas a rapidinha foi tão ligeira, que ela ficou chupando o dedo.
Carinha sem-graça.
A mocinha que escrevia versos e gostava de vestidinhos azuis só queria chupar. Porém, o Cara teve medo de ser engolido por tanta paixão e vazou.
Na verdade, estava de quatro pela princesinha, a filha do delegado. Mas ela – a patricinha da roça – estava louca por um vaqueiro do Arizona, nem reparou.
Aí todos iam para a praça, depois da missa de domingo: a bailarina, o artista plástico, o campeão, os bajuladores, a magrelinha, a menina e a mocinha.
Trocavam palpites e concluíam:
– Ô, que Cara besta. Parece que ele não achou as palavras, nem o jeitinho pra lidar com nóis. Só esse sotaque de xis chinfrim quando abre a boca e ainda por cima ruinzinho de cama.
Quem sabe se aparecesse em cena com movimentos suaves, assumisse que é gay – brincou a bailarina.
– Talvez se botasse luz nas ideias, estudasse um pouco ou fumasse uma maconha que prestasse – concluiu o artista-artesão bidu.
– Quem sabe se ele abrisse a guarda, assumisse que é bi – conjecturou o pensativo lutador.
Em coro, os puxa-sacos da repartição fofocaram: “Se o tal poderoso ficou de quatro pela zarolha é porque é um quadrúpede mesmo”.
A magrelinha e a mocinha dos versos concordaram. Depois, suspiraram lentamente ao lembrarem o quanto era gostoso transar naquela posição.
Adoravam sexo anal.
Nada disso o Cara babaca reparou.
Voltou para o Rio de Janeiro, queixando-se da ingenuidade dos caipiras.