Sumaia Villela - Correspondente da Agência Brasil
Os caboclinhos, expressão da cultura popular de tradição centenária sobretudo em Pernambuco, foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O registro foi aprovado, dia 24 de novembro de 2016, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do órgão, em reunião realizada em Brasília.
Cultura presente também no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Alagoas e Minas Gerais, os caboclinhos são classificados pelos brincantes como uma homenagem aos primeiros habitantes do território que veio a se chamar Brasil. Os grupos – alguns com mais de 100 anos e ainda ativos – se apresentam nas ruas – principalmente no carnaval - vestidos com penas e pedrarias, em uma releitura carnavalesca dos trajes indígenas tradicionais, e dançam com agilidade os diferentes toques que representam temas de rituais da população indígena.
“Tem o toque de guerra, que é a preparação para o combate; o de perré, para pedir a chuva; o de baião, que é mais festivo, usada para comemorar qualquer coisa que a tribo quisesse; e o toré, que tem um aspecto religioso”, ensina o presidente do Clube Carnavalesco Tribo Indígena Tupã, do Recife, e secretário da Associação Carnavalesca dos Caboclinhos e Índios de Pernambuco (Accipe), Amauri Rodrigues de Amorim.
Como o próprio nome indica, a reverência ao caboclo (tanto o brasileiro filho de índio e branco como a entidade presente na umbanda, por exemplo) está presente na brincadeira, assim como o culto à Jurema, árvore nativa do Norte e do Nordeste do Brasil considerada sagrada e base de um chá usado em rituais. A brincadeira também tem referência na colonização do território brasileiro.
Uma data marcante para os caboclinhos, quando geralmente ocorrem encontros estaduais do folguedo, é 30 de março. Em 1645, foi neste dia que ocorreu uma grande assembleia de povos indígenas na aldeia de Itapecerica, em Pernambuco, quando escolheram seus próprios representantes divididos em conselhos de vereadores e três regedores de territórios.
A estimativa da associação de Pernambuco é que existam cerca de 70 grupos de caboclinhos no estado – 30 apenas no Recife. “O meu é dos mais novos, tem 39 anos”, brinca Amauri. Para fabricar as roupas e instrumentos, as agremiações recebem apoio financeiro do Poder Público – no caso do Grupo Tupã, da prefeitura – e complementam a renda com bingos e outras atividades para angariar recursos. “A gente espera que, além do reconhecimento da nossa cultura, o título traga mais oportunidade fora de Pernambuco, e que o valor pago pela prefeitura tenha uma aumento”, diz.
O governo do estado fez o pedido de registro como patrimônio imaterial do Brasil em agosto de 2013, mesma ocasião em que foram solicitados os registros do maracatu nação, maracatu de baque solto e o cavalo narinho, expressões culturais transformadas em patrimônio nacional em dezembro de 2014.
O secretário de cultura de Pernambuco, Marcelino Granja, afirma que o apoio do Poder Público também é necessário para perpetuar a arte. “A gente precisa ajudar as sedes desses blocos, precisa se preocupar com a formação de novos mestres dessa arte. E determinadas políticas públicas precisam ser observadas, como a existência de concursos no carnaval do Recife. Por um lado é bom porque ajuda na profissionalização, na concorrência virtuosa, mas por outro lado incentiva a padronização”. Ele cita também o ganho de autoestima e de visibilidade da cultura como benefícios do título.
fonte: Agência Brasil