São cerca de 250 filmes de mais de 60 países, divididos em 15 mostras, ocupando 20 salas, na 17ª edição do Festival do Rio, de 1 a 14 de Outubro de 2015.
Para aqueles que acompanham há mais tempo as duas semanas dedicadas ao gênero, porém, a queda tanto no número de filmes quanto no número de salas é inegável.
Na edição passada, por exemplo, foram 350 títulos e 21 mostras exibidos em 35 telas. Segundo a diretora executiva Ilda Santiago, a reestruturação do festival não é novidade, pois já vinha sendo estudado há mais tempo.
"Nos últimos três anos temos construído um processo de reestruturação, repensando circuito e número de filmes, tentando nos ajustar às demandas do público e da geografia da cidade.
Este ano, optamos por espalhar o Festival por diversos pontos da cidade, testando também públicos, gostos e hábitos, com uma programação variada, incluindo um circuito gratuito, em vários locais. Acho que o que mantem o frescor do festival é justamente essa capacidade de renovação, de estarmos abertos a novas produções e tendências", afirma.
Produções mais recentes de diretores consagrados estão na mostra Panorama: Grandes Mestres, entre as quais À Sombra de Uma Mulher (L'Ombre des Femmes), de Phillippe Garrel, Mia Madre, de Nanni Moretti, Tudo Vai Ficar Bem (Everything Will be Fine), de Wim Wenders, A Rua da Amargura (Bleak Street), de Arturo Ripstein, Rabin, The Last Day, de Amos Gitai e Argentina, de Carlos Saura.
Dos Estados Unidos, o Festival do Rio importou sete títulos, entre eles Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (Me and Earl and the Dying Girl), do espanhol Alfonso Gomez-Rejon, vencedor do prêmio de melhor longa de ficção e o escolhido pelo público do festival de cinema independente. Na trama do longa, um estudante de cinema se vê obrigado pela mãe a fazer amizade com uma colega de turma que tem leucemia.
Outro título importado foi O Pica Pau Russo (The Russian Woodpecker), de Chad Garcia, eleito pelo júri o melhor documentário internacional. Garcia e os produtores Mike Lerner e Ram Devineni acompanham o artista ucraniano Fedor Alexandrovich pelos campos abandonados de Chernobyl, sempre em busca de pistas que comprovem suas teorias em torno do acidente nuclear, o pior da história em termos de custos e de mortes resultantes, ocorrido em abril de 1986.
Do festival francês, cujo júri foi presidido pelos irmãos Coen, vieram mais oito títulos, como a ficção científica The Lobster, de Yorgos Lanthimos, vencedor do prêmio do júri. Na trama estrelada por Colin Farrell, Rachel Weisz e Jessica Barden, uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Caso não encontrem um parceiro, homens e mulheres são transformados em um animal de sua preferência e soltos na floresta.
Já Paulina, produção da Argentina, Brasil e França dirigida por Santiago Mitre, é inspirado no filme A Gangue, de 1960. O longa do diretor argentino acompanha a trajetória de uma advogada que decide colocar seus ideais políticos em prática, passando a dar aulas na província de Misiones, apesar de todos à sua volta tentarem dissuadí-la.
"Durante o ano todo, temos uma equipe de seleção quer percorre os festivais e assiste a filmes de todos os cantos do mundo. Procuramos exibir não somente os filmes premiados mas também aqueles que possam despertar alguma curiosade, algum interesse no público", diz Ilda.
Esta edição, ao contrário do ano passado, que trouxe a mostra Foco México, não tem nenhuma homenagem a um país em particular.
O cinema mexicano, no entanto, terá sua produção lembrada na Première Latina, com nove títulos produzidos inteiramente por lá ou em coproduções, como Sociedade Indiferente (Um Monstruo de Mil Cabezas), de Rodrigo Plá, 600 Millas, de Gabriel Ripstein, As Escolhidas (Las Eligidas), de David Pablo, e o fruto da parceria com o Chile Allende meu avô Allende (Allende mi abuelo Allende), de Marcia Tambutti Allende. "Sempre procuramos exibir produções mexicanas, pois o país possui uma cinematografia rica e bastante particular", comenta a diretora.
Com algumas mostras já bem conhecidas pelo público, como Panorama do Cinema Mundial, Expectativa, Première Latina, Fronteiras, Midnight, Midnight Docs, Geração e Meio Ambiente, o Festival também traz outras inéditas, dedicadas a Orson Welles, que completaria 100 anos em 2015, com seis títulos assinados por ele, como Soberba (The Magnificent Ambersons) e Otelo (Otello) e três documentários sobre o diretor; ao Estúdio Ghibli - que completa 30 anos - reponsável por animações japonesas de sucesso como A Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro e que tem em Hayao Miyazaki seu maior representante, e aos Grandes Mestres do Cinema.
Outro homenageado é o diretor Hal Hartley. Considerado um dos mais criativos do cinema independente americano dos anos 1990, ele vem ao Rio especialmente para participar da mostra Lição de Cinema com Hal Hartley, em que participa de uma aula aberta ao público e apresenta três de seus filmes, Flerte, Simples Desejo e Ned Rifle, sua mais recente produção.
Pelo segundo ano, o Prêmio Felix vai eleger, entre 25 filmes espalhados por toda a programação do Festival, as melhores narrativas, em documentário e ficção, da temática LGBT, a partir de um júri oficial.
Um dos destaques é Eu Sou Michael (I am Michael), de Justin Kelly e com James Franco, Zachary Quinto e Emma Roberts no elenco. O polêmico personagem-título (vivido por Franco), defensor dos direitos LGBT, começa a condenar sua condição de homossexual, arranja uma namorada e se torna um pastor cristão que luta de maneira ferrenha contra os gays.
Na Première Brasil, aguardadas superproduções nacionais.
Entre elas, constam oito longas e dois curta-metragens apoiados pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), através de quatro editais, lançados entre 2010 e 2012. São eles: Órfãos do Eldorado (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Aspirantes (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Quase Memória (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Nise - Coração da Loucura (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Beatriz (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Crônica da Demolição (mostra competitiva de longas-metragens de documentário), Campo Grande (mostra competitiva de longas-metragens de ficção), Através da Sombra (hors concours de ficção), Até a China (mostra competitiva de curta-metragens de ficção) e Projeto Beirut (Mostra Rio 450 Anos, Não Competitiva). Ao todo, a SEC investiu mais de 2,5 milhões no apoio às produções.
Odeon de volta ao circuito
Reaberto em maio, após um período em obras, o Cine Odeon volta ao circuito do Festival do Rio nesta edição.
Xodó dos cariocas, o local vai abrigar os tradicionais debates com o público e as sessões populares da Première Brasil, além de exibir o filme de abertura desta 17ª edição, o documentário Chico: Artista Brasileiro, de Miguel Faria Jr, que já assinou produções sobre Lamartine Babo (1969) e Vinícius de Moraes (2005).
Um dos principais eixos do longa é a busca de Chico por Sergio Günther, o irmão alemão retratado por ele em seu último romance e que não chegou a conhecer pessoalmente.
"Quado eu comecei a filmar, Chico estava escrevendo, a partir do fato de saber sobre o irmão alemão. No final, o envolvimento ficcional dele foi tanto que resolveu conhecer o irmão, sua história, imagens etc. Esse mecanismo de um fato real levar a uma ficção e a ficção levar ao fato real, já que ele não iria procurar o irmão se não fosse o livro, é a tradução do processo de uma obra.
Como o tema principal é o artista e a criação, nada melhor do que uma que exemplifica isso para ser o fio condutor. É uma história que ele estava vivendo enquanto eu estava filmando", diz Faria, amigo de longa data do compositor.
"Uma das razões que me levam a fazer esse tipo de filme, documentário, é querer aprender, por curiosade. E eu aprendi muito sobre o processo de criação do Chico, sobre como, para fazer uma obra como a dele, é preciso estar integralmente disponível, ter sua vida dedicada a isso. Uma das coisas que aprendi com ele são sentimentos que estão meio em desuso, como gentileza, generosidade, afeto e honestidade", completa o diretor.
Para Ilda Santiago, feliz por poder voltar ao Odeon - "é, de certa forma, como voltar para casa" -, é um privilégio abrir o Festival do Rio com um filme de Miguel Faria Jr. "E privilégio ainda maior abrir com um filme sobre um artista que mais carioca e ao mesmo tempo mais universal, impossível". As sessões e eventos de gala, por sua vez, acontecem no Cinépolis Lagoon.
O RioMarket, área de negócios do Festival do Rio, completa a programação do evento. Durante nove dias, produtores, roteiristas, diretores, autoridades, advogados, técnicos e profissionais da indústria audiovisual brasileira e internacional se reunirão para trocar informações e discutir sobre o mercado audiovisual com o público.
Serão mais de 45 mesas de debates e mais de 15 workshops e master classes, entre atividades pagas e gratuitas. A nova sede do RioMarket e de outras atividades do Festival será o Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, no Flamengo.
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fonte: Secretaria de Cultura, Governo do Rio de Janeiro