Nas últimas décadas, os pais têm observado que as crianças ficam entretidas diante de celulares, tablets, laptops ou brinquedos que possuem a tecnologia wireless como componente, e, com certa frequência, permitem o acesso dos filhos a esses acessórios como forma de mantê-los quietos.
Mas o que muitos deles não sabem é que essa atitude pode prejudicar a saúde das crianças.
Vários estudos internacionais, publicados em um artigo no Journal of Microscopy and Ultrastructure, da Elsevier (a maior editora de literatura médica e científica do mundo), mostram que as crianças absorvem mais radiação por micro-ondas (MWR), presentes em aparelhos sem fio, do que os adultos.
A MWR foi declarada como um possível carcinógeno humano (classe 2B) pela International Agency for Research on Cancer (IARC) da Organização Mundial de Saúde.
As pesquisas revelam que o tecido cerebral das crianças absorve duas vezes mais MWR do que o dos adultos e, quanto mais nova, maior o risco.
O feto é particularmente vulnerável à radiação por micro-ondas e, portanto, as gestantes também precisam ter precaução.
“As agências reguladoras têm estabelecido limites para a exposição à radiação, mas as orientações não têm sido atualizadas. Não há consenso quanto à distância mínima a partir da qual se deve manter os celulares longe do corpo, pois já se pressupõe que a prática de guardá-los no bolso, por exemplo, seria inadequada”, destaca o Prof. Dr. Paulo Taufi Maluf Júnior (CRM/SP 21.769), oncologista e hematologista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas e do Hospital Sírio-Libanês.
O pediatra explica que existe uma regra que marca como mínima a distância de 20 centímetros para tablets e laptops, mas isso é contraditório porque esses aparelhos são computadores de colo.
Além disso, a distância de 20 cm não é prática para crianças com membros superiores mais curtos. “Portanto, recomenda-se que não haja exposição de bebês e crianças a esses equipamentos ou a brinquedos que usem a tecnologia wireless ou sem fio”, orienta o pediatra.
Estudos populacionais suecos e coreanos demonstram que entre adolescentes, que iniciaram o uso de celular aos 13 anos, houve maior incidência de tumores cerebrais.
Nos EUA e na Dinamarca, nota-se que, nas últimas décadas, aumentou o número de casos de tumores cerebrais do tipo glioblastoma multiforme cuja letalidade é particularmente alta.
Não há como estabelecer relação direta desse fato com o uso de celulares, mas nota-se que o surgimento de mais casos coincide com o advento dos telefones móveis.
Outra pesquisa mostrou que, na avaliação retrospectiva de um grande número de meninas habituadas a guardar celulares dentro de sutiãs, houve quatro casos de câncer de mama em idade mais precoce do que usualmente ocorre.
“De nenhuma dessas pesquisas pode-se concluir que os celulares causam neoplasias, pois não há rigor científico nelas. No entanto, fica o alerta para a necessidade de se investigar melhor essa relação”, destaca o médico.
O Prof. Dr. Paulo Taufi Maluf Júnior lembra que alguns países têm iniciado campanhas com advertência para os riscos potenciais às crianças decorrentes da proximidade desses aparelhos.
Na Bélgica, não há propaganda de celulares durante a programação infantil de TV e pede-se aos pais que não deixem crianças abaixo de 7 anos manusear os dispositivos.
Na França, a veiculação de publicidade de celulares para crianças menores de 13 anos é ilegal.
Na Austrália, são distribuídos folhetos explicativos que aconselham parcimônia no uso de celulares para todos, com destaque especial aos danos potenciais às crianças.
Para o oncologista pediátrico, “é preciso que os manuais dos aparelhos esclareçam sobre os riscos à saúde, assim como os governos alertem a população que, em sua maioria, não tem conhecimento dos riscos às crianças e adultos”.