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 O jongo se aprende desde criança no Quilombo São José da Serra. O jongo se aprende desde criança no Quilombo São José da Serra. Foto: Isabela Kassow/ Diadorim Ideias
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O mais antigo quilombo do Estado do Rio foi formado por volta de 1850

 

(( Patrimônio Imaterial / Valença ))



O Quilombo São José da Serra é formado por descendentes de escravos que vieram do Congo, da Guiné e principalmente de Angola e moravam nas terras da Fazenda São José da Serra. É o mais antigo quilombo do Estado do Rio, formado por volta de 1850. Localizado em uma área de 476 hectares na Serra da Beleza, após o distrito de Conservatória, ele abriga cerca de 150 quilombolas, que mantêm as tradições africanas.

O lugar parece pertencer a outro tempo. Mas ainda assim moradores sentem saudades do passado, antes de chegar a pouca estrutura atual. Mãe Tetê – Terezinha Fernandes de Azedias, de 67 anos – é uma das lideranças. Ela conta que a eletricidade só chegou por lá há uns 10 anos. Diz sentir falta do escuro que fazia ver além. “Fui criada com querosene, lampião a gás. Não tinha TV: minha mãe e meus avós contavam histórias, a gente jogava bola, brincava de roda, e via sempre a Mãe do Ouro”, diz, para depois explicar.

“Era escuro e a gente via uma bola de fogo que saía da pedra, soltava fagulha e clareava o terreiro, antes de entrar em outra pedra. A cada hora passava uma com cor diferente: amarela, vermelha e verde, que era a mais brava”, conta ela, que comanda o terreiro de umbanda herdado de Mãe Firina, cuja fama atrai até visitantes estrangeiros.

Outro foco de espiritualidade no Quilombo é a pedreira onde vive uma centenária e gigantesca árvore de jequitibá. O lugar era usado como refúgio pelos antepassados dos moradores. ‘É como se fosse nossa matriarca, um refúgio de fortaleza: quando alguém tem alguma doença, vem rezar e é atendido’, atesta Maria Santina do Nascimento Roque, de 67 anos. Sob a copa da árvore há grutas, ossos e raízes aparentes e ali também morou muito índio. “A gente vê a imagem deles na pedra”, diz Maria Santina.

Os moradores vivem da roça de milho, batata, mandioca, feijão, goiaba, laranja, banana, jaca, maracujá, coco, pêssego. Muitas crianças nasceram pelas mãos de parteiras, como Florentina do Nascimento, de 87 anos, a Tia Lora, a única ainda viva. Ela é tia de Mãe Tetê e seu avô era africano, escravo trazido do Congo, que não falava português. Ela já fez mais de 50 partos bem-sucedidos. “A receita é dar leite morno com canela para a grávida beber e depois dar um banho nela de conta de lágrima com erva de São João.”

Líder do Quilombo, Toninho Canecão saiu ainda jovem em busca de emprego, mas voltou. Ele mora no distrito de Vila Isabel, mas visita todo dia as terras onde nasceu e trabalha para melhorar a vida de lá. Desde 2007, todas as casas têm água encanada e banheiro.

Agora, o Quilombo está mais preparado também para receber os visitantes da grande Festa do Preto Velho, dia 13 de maio. Mais de 3 mil pessoas vêm de várias cidades do país e acampam por lá. Tem feijoada, jongo, capoeira, folia de reis. O ponto alto é a bênção da fogueira, no meio do terreiro. As manifestações são mantidas vivas na escola da comunidade, com a ajuda da coordenadora Luciene do Nascimento.

As crianças aprendem que as rodas de jongo aconteciam no mato, e nelas eram combinadas as fugas dos escravos. Isso fez com que os fazendeiros trouxessem o jongo para o interior das propriedades. Muitos senhores também eram atraídos pelo canto e pela dança, o que transformou o jongo num folguedo popular na região. Faz sucesso ainda o artesanato do Quilombo, com suas bonecas de palha de milho, palha de bananeira e bucha natural vendidas em lojas de Conservatória e Valença.



Estrada Conservatória-Santa Isabel do Rio Preto (RJ-137), Km 57, Serra da Beleza
(24) 2457-1130
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Última modificação em Quinta, 10 Setembro 2015 22:26
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