Arquipélago da Madeira

Arquipélago da Madeira

Destino exibe suas raízes em patrimônios históricos e monumentos fascinantes. // Famoso por ser um dos mais belos do mundo, o Arquipélago da Madeira é rep...

Suíça, de trem

Suíça, de trem

Um passeio imperdível pela Suíça com o Grand Train Tour

Lan Lanh

Lan Lanh

Lan Lanh sobe aos palcos do Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro, para apresentar o show "Batuque da Lan Lanh" nos dias 2, 3, 4, 5, 9, 10, 11 e 12 de junho. ...


Como sabemos que as vacinas para COVID-19 são seguras?



 por Natalia Pasternak

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( da Série Contos da Quarentena) )

– Internada

/por Nádia Timm

 

Ainda que estivesse tudo normal, os dias crivados de mesmices, o tempo agendado, as rotinas insossas e a mesma, a mesma, solidão, agora seria diferente.

Haveria a dor maior cortada na carne, literalmente costurada, cirurgicamente remexida, remendada.

Apesar do clima de perplexidade, decidiu fazer a mochila e se internar no hospital em outra cidade, em Goiânia, no dia em que foi anunciada a primeira morte no Brasil provocada pela peste contemporânea. Deixou o planalto de Brasília, os ventos das tardes geladas.

No dia seguinte, morreu o primeiro brasileiro.

 Começava a sensação de desamparo de um povo que antes sabia rir e festejar com a leveza, a alegria absurda e irracional dos pássaros nas manhãs ensolaradas.

Brasília não há mais. O Brasil virou cenário no qual o monstro torpe e mesquinho anuncia dogmas obscuros, no avesso do humanismo, saltam das palavras mentirosas e beligerantes de um presidentezinho de arremedo.

Deixou Brasília para trás.

 Também deixou as ondas do Arpoador e de Copacabana para algum dia, talvez. Talvez o azul brilhante das águas de Ipanema voltasse a ser uma possibilidade de prazer. Viagens adiadas.

Mergulhou no interior.Foi para Goiânia para a cirurgia, convalescer e suportar a tragédia da pandemia.

O momento era de um Brasil absurdo e tão mesquinho. Não importava para onde fosse, sabia que era a hora do naufrágio e estava só.

Havia sim o Verme, além da pandemia.

O codinome Verme inundava as redes sociais, era do homem com discursos fascistas e performances de um neo-Hitler.

 Gestual, coreografias, símbolos de uma violência proscrita, mas agora rediviva. Monstruosa, absoluta, descarada.

O outro vírus, como um buquê de flores rosas invisível, trazia à tona em seu rastro o algo mais exasperante: o triunfo da ignorância.

 Eles se alimentavam mutuamente. O Verme se tornava enorme. Paquiderme. E misógino. E enorme. E racista. Enorme. E homofóbico. Em sua estupidez se tornava cada vez maior.

 Os brasileiros, ínfimos.

 E ela, a protagonista desta história?  Agora, prostrada na cama de um hospital, imobilizada, dedilhava o celular como quem dispara uma metralhadora. A guerra é fria, repetia.

A morte começa pela aniquilação da alma, delirava.

Tempos sombrios, idade das trevas pós-moderna, resmungava.

 O brasileirinho arrogante, ignorante, é gado. Manada manipulada, alienada, tosca.

Ela ali estendida, imóvel: anestesiada, assiste às bandeiras insistentes, sacudindo velhos chavões, glorificando ridículos líderes, absurdos chefes de gangues que se armam e instigam a violência, o preconceito, as dores, o revés do humano, o homem repartido, estilhaçado, imoral, hipócrita, um Brasil que não reconhece em ladainhas de generais de pijama.

Senis. Pátria amada virou slogan de uma nação vilipendiada. Criminosos travestidos de políticos rangem estúpidas ideias sobre a Terra plana e uma anacrônica invasão comunista, indiferentes à pilha de milhares de mortos pela Covid-19.

Um Verme está presidente do Brasil. De um Brasil recém-descoberto, sem poesia, feio e moralista, que odeia despudoradamente.

Um país no qual fascistas foram levados democraticamente ao poder à custa de mentiras. Ao chegarem, assumem a inumanidade impensável, materializada por palavras e gestos, a semântica do desprezo.

Foi assim que as dores se misturaram num ritual dramático e insensato. A dor do corpo parafusado, remexido, emendado e a dor na alma pela tragédia anunciada de um genocídio.

Resta o quê neste mundo desfeito, sem esperança? O Brasil não é mais o Brasil. Nem o colorido das paisagens e das peles. Nem as curvas de uma geometria harmoniosa.

Em tudo há desencanto.

Ali onde havia alegria, cresce a semente do inumano, à revelia de qualquer senso, a alma deste país se apequena. Frágil e superficial, uma cultura estraçalhada pela guerra. A quarentena brasileira é feita de absurdos e traições.

A lucidez foi traída.

Era outono e o céu de Goiânia brilhava em azuis em tons egípcios, a metrópole cravada no cerrado continha, talvez só para Ela, uma sensação de segurança, paz de vida eterna.

Era também um outro país, à  pouca distância de Brasília,  Goiânia era de outra matéria.

 Algum ingrediente misterioso há na essência das cidades.

 Talvez o contrassenso, atração dos contrários.  Ela, uma urbana deslumbrada, é surpreendida por um mundo que gravita em torno de terras, vacas, cavalos, bichos, seres abstratos para quem não conhece a natureza.

Novidades para quem conviveu com roncos de motores, carros, lanchas, helicópteros, gente espremida em ônibus e metrôs, ruídos, mendigos, praias, sóis, voos, ondas se espraiando na memória carioca.

Ela sente um desejo de sentir o prazer intenso de viver, VIVER, como viveu, um dia, na beira do mar, lá longe, num Rio de Janeiro de sua infância.

Antes tinha planos de mergulhar nos livros, rever a história oficial, a versão aceita de uma outra versão.

Era o projeto anterior ao vírus.

Seria um romance sobre a fantasia e as verdades.  Outros vermes atravessando com flechas e balas, disseminando à ferro e à doença, milhares de índios. Escravizando africanos durante séculos.

Vale tudo na terra sem lei. A reforma agrária é sonho. A América unida de Bolívar, desconhecida. Herdeiros da ignara flor do Lácio inculta e bela, colonizados, vendem a alma.

Ah nossa história.  Dezenas de povos participaram desta ideia de nação tropical, dezenas de deuses e rituais, danças e canções, quanta fome de vida e um pacto explícito de que sempre poderemos dar um jeito.

Às vezes, distorcendo a ética por trás da máscara risonha, da fantasia sentimental. Ah como somos piegas. Barrocos, românticos. Como nos fazemos de caridosos e gentis, corroídos que somos pela sensação de inferioridade, subalternos, colonizados, recalcados.

Ah este povo nosso. Padece de fome e miséria, século após século e apesar da tragédia anunciada, beija a mão do algoz. Ah elite. Burguesia cevada por superficialidades confortáveis e uma ignorância atroz, feito inconsciência absoluta das dimensões humanas, é rasa e torpe.

Fim, claquete. Fecha a cortina.

Apaga a luz e adormece.

 Seria lindo se adormecesse e cessasse esta loucura, este pesadelo.  Do vírus, do Verme. Mas é a vida, o paroxismo da vida, a chama da vida exaltando os vis instintos para que a dor se manifeste e didaticamente ensine a lei: Você é e está onde você se coloca.

Ela? Ela está no olho do furacão.

Sente a falta de ser tocada, abraçada, alisada, beijada, deliciosamente entregue ao prazer do corpo. Na espiral de felicidade, sem ilusões, sem exigências, só fluindo em si, sem enredos dramáticos de luta ou sacrifícios. Só mergulhando em si percebia a dimensão da existência.

Havia ainda aquela sensação de voo e queda.

Era quando a dor chegava, imensurável.

Vinha ainda a impressão de vácuo, como se houvesse uma imensa distância entre Ela e o mundo, as coisas, os ruídos das máquinas soando ritmamente com seus brilhos, hieróglifos em luzes.

E depois, e sempre em algum momento inesperado aquelas luvas a tocando, virando seu corpo, arranhando a pele, espetando, furando... Havia aqueles rostos mascarados e seus uniformes de astronauta.

Estaria em algum voo intergaláctico?

Talvez hipnotizada, a televisão repetindo a notícia duas mil vezes.  

Não, não conseguirá sobreviver à invasão de notícias falsas, em todas suas mídias sociais.

Não, não há como bloquear o inimigo, os inimigos, as infames mentiras circulando nas veias feito uma droga poderosa, alucinante, delirante.

Extravasa em lágrimas, gemidos, soluços.

 Está só.

 Não há com quem falar, não há mais em quem tocar. Há somente solidão e ruas vazias.

Espia na janela, assiste às dezenas de janelas, escuta os sons das panelas batidas em protestos solitários.

Está no corredor escuro de um hospital, uma corrente de ar frio e medo.

 Quando a vida saltará em festa e abraços e beijos? Bem na sua frente, nua. Irresistivelmente sensual, pedindo para viver, seguindo o impulso, a energia de um orgasmo, ou um milhão de orgasmos explodindo feito o sol, em zilhões de mega explosões, arremessada pós galáxias em outros mundos.

Paralelos, ou não.

Imaginários, ou não.

Uma nova Alice tão feliz em sua viagem. Madame Butterfly apaixonada, perplexa por tanta beleza na voz de Maria Callas. No túnel da garganta entoa l´amour, feelings, Nina Simone, feeling good.

A lista do Spotify, de música escolhida pelo maestro Alexandre, é o bálsamo na solidão daquelas tarde de quarentena. Das janelas vem o som metálico da revolta, das panelas. Há gritos em comoção a cidade esbraveja.

 Ela nem tenta mais se erguer, a curva da Covid19 subiu e a alcançou assim como a onda da praia distante.

O vírus veio em cheio e acertou seu peito. Febril, só percebe a vida em flashes. Assim passam os dias, semanas se esvaem.

Assim o tempo deixa de ser medido.

Em cena há apenas a luta entre a vida e morte.

O mal solidificado na indiferença, a sensação de bondade perdida. O desagradável peso acumulado pela maldade cultivada, ferindo princípios da civilidade, do humanamente possível.

Em tempos de pandemia, o mundo inteiro parece se proteger, cuidar, resguardar.

No Brasil, não. Nele a maldade impera.

Números de mortos são escondidos, aparelhos respiratórios são superfaturados, mentiras são espalhadas pelo Verme que envenena a nação.

Ele não se importa com os mortos, nem com os vivo, só o poder interessa.

Na Amazônia brasileira, depois dos incêndios das florestas, agora são assassinatos, grileiros invadem reservas indígenas e o ministro do meio-ambiente, inimigo explícito do meio-ambiente, declara que é hora de aproveitar que a mídia está voltada para a pandemia e fazer alterações nas leis ambientais.

Milhares de índios estão com as vidas ameaçadas.

Mais vulneráveis às infecções e à ganância de oportunistas sempre apoiados pelo governo corrupto.

Pela janelinha da memória recordou da floresta, da paisagem vista do avião, quando esteve no Quarup, no Alto Xingu, centenas de quilômetros de verde, recortados por traços/rios.

 Miniaturas sob as nuvens.

Lembra dos milhares de índios reunidos naquela homenagem aos mortos.

 Centenas e crianças. Corpos pintados, vermelho e negro, perfumados de urucum. Quanta beleza. Lembra do carinho intenso, do beijo profundo.

 Estava sonhando ou delirando.

 Revive sensação do corpo imantado de prazer, cheio de energia. E aí, vinha o desejo imenso de vida, a lembrança de como era livre e alegre.

A mão amada acariciando suas costas, segurando sua cintura. Aquela vibração deliciosa, tão íntima. Gozo imensurável, fonte de estímulo, o mundo exterior não a arrasta mais. Lucidez para perceber os níveis mais profundos da realidade. Algo se transforma, estimulação constante provocada pela vivência.

 Encara a ilusão do paraíso, enxerga.

Conhecia bem aquela sensação de encantamento!

Por mais que a violência se manifestasse em trágicas cenas, não a atingiam com se espectro de medo e terror.

Havia aquela alegria existencial, era feita desta substância. Era uma tênue fronteira entre mundos paralelos.

O que importava era seguir percebendo a suavidade daqueles instantes mágicos, tão leves, etéreos, como os sonhos. Ou como aquelas bolhas translúcidas flutuando em torno das risadas das crianças ou de jovens enamorados. Instantes que a vida emergia, como um êxtase pleno de amor.

Sentimentos preciosos prontos para eclodirem em abraços, beijos, na magnitude de uma explosão cósmica.

Agora existia o lá fora e o aqui dentro de mim.

E o aqui dentro de mim determinava seu estado de felicidade plena.

Nas semanas de isolamento guardou aquele sentimento. E sentimental que era multiplicou, replicou, exagerou suas fantasias. Talvez quando tudo passasse, viajassem para Paris, ou Caribe.

Quem sabe um final de semana no Rio, para matar a saudade? Os sinais do desejo. Talvez fosse o abraço. Era como se a felicidade coubesse naquele abraço.

Vontade de ficar ali, naquele instante quando o corpo se rende ao prazer de existir. Parecia simples, apenas se deixar levar em um mergulho nas emoções. Submergir, escapar de todas as dores do mundo, se sentir deus.

Foi quando Ele telefonou, rapidamente disse que estava tudo bem.  Ao desligar, percebeu que a grande nave pairava sobre seu corpo.

  Aí o cotidiano de sons, lamúrias e medos sumiram.

Ganhou a cena aquela imensa brancura, percepção de que algo mais transpunha a realidade para outro cenário. 

Feito uma ponte suspensa sobre sua cabeça, a percepção da vida interior veio junto.

O que éramos nós, ali desgarrados, solitários, isolados, enquanto vida em algum lugar ainda estaria a pulsar.

Ali não havia o menor ânimo, a menor possibilidade daquelas frivolidades essenciais como abraçar e beijar os filhos, um amado ou aos amigos, abraçar estreitando os corpos ou dando socos carinhosos.

Pouco nos víamos, por poucos minutos. Ele do outro lado da mesa, ou da tela do celular.

 Você do lado de lá.  Havia a mesa, a máscara, o tempo, a tela, a distância das

dúvidas e havia também aquela sensação intensa de prazer. Uma alegria de festa ao  vê- -lo, te ouvir, não não lembro o que você dizia, mas era algo muito engraçado, muito fora do ‘iscripeti” desta nossa época tão trágica.

Depois, por horas, fica a ressonância da tua presença grudada no meu coração. Sim! Ainda há coração e como eu te amava naqueles instantes.

Era uma sensação desmedida, que chegava tão forte que de repente, tinha vontade de cantar e dançar.

Depois, se atirava sobre os travesseiros e ficava mil anos tentando rever na memória cada segundo, cada palavra, vírgula, cada gesto seu.

 A última foi: não suma.

Mas eu vou sumir eu sei.

Começo a desaparecer quando a dor chega.

 Ela e a maldita saudade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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“O mundo está chapado de tanto consumo



Para autor do livro A Vida Não É Útil, temos uma oportunidade rara de reprogramar a vida na Terra

 

 

 

Fonte: Carta Capital

 Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak está confinado em sua aldeia próxima do Rio Doce e anda indignado com o negacionismo, fruto de uma guerra silenciosa que contagia as pessoas e transforma muitos em zumbis.

Nesta pandemia, a Terra teve de parar. Para ele, esta é uma oportunidade para reprogramar o futuro da Humanidade.

No ano passado, a Companhia das Letras publicou Ideias para Adiar o Fim do Mundo e agora lança A Vida Não É Útil, com textos de reflexão de Krenak sobre a pandemia.

O tom pessimista de seu pensamento atual dá-se pela ascensão de governos de extrema-direita e pelo avanço da destruição ambiental.

CartaCapital: Se a pandemia fez o mundo parar, por que não somos capazes de ouvir o comando de parar de predar o planeta?

Ailton Krenak: A resposta é complexa. Ela envolve a atividade econômica, o poder político e as disputas de hegemonias regionais entre Oriente e Ocidente. Não estamos falando de uma questão regional, da América do Sul, mas de uma pandemia do mundo inteiro, desorganizando a vida e nos dando a oportunidade de pensar em que direção a gente vai sair quando abrir o sinal. Estamos todos parados porque o trem vai passar. Então é pare, escute e olhe. Agora precisamos saber para onde vamos, porque podemos entrar exatamente debaixo dos trilhos.

CC: Como vê este momento de parada do mundo?

AK: Parar para reprogramar com inteligência é uma oportunidade rara. Agora, parar e não ter o que programar vai produzir angústia. É por isso que tem muita gente pirando em vários lugares. E tem gente negando a ciência. As instituições de pesquisa, os institutos, a Fiocruz, estão sendo atacadas, até o Instituto Butantan e os cientistas vêm sendo nominalmente achincalhados. Os nossos institutos da Amazônia vêm sendo totalmente detonados. Não tem fogo na Amazônia, ninguém está queimando nada. É o novo testamento da negatividade. Não estamos vivendo uma guerra armada. É uma guerra silenciosa. É uma situação que está afetando mais os sentidos das pessoas, as convicções que as pessoas tinham sobre suas rotinas, suas vidas. Não estamos tendo um bombardeio do ar, em cima de nossas cabeças. Estamos tendo, correspondendo bem à imagem do vírus, um contágio no plano subjetivo, emocional.

CC: Pelas cosmologia indígena somos na Terra memórias  de outras vidas. O que teriam sido Trump e Bolsonaro em vidas passadas?

AK: Provavelmente, nada. Porque tem coisas que vêm do nada. Aquele buraco de minhoca é um lugar nenhum. Na década de 70, 80, os cientistas descobriram o black hole, né? Tem gente que veio desse lugar, desse black hole.

CC: Você também cita o conceito de necropolítica para se referir ao presidente e a uma mentalidade doente que domina o mundo. Por que chegamos a esse ponto?

AK: Chegamos por omissão, conveniência e oportunismo. Nós nos tornamos uma comunidade humana estranha a si mesma, indiferente a quantos estão morrendo e vivendo uma fúria consumista, que parece que a nossa barriga é maior que a nossa vontade e garganta. O mundo está chapado de tanto consumo. Chapou. E está todo mundo empapuçado com o que chamei de “doente”. É uma doença que afeta a capacidade interna de cada um de nós de despertar o poder interior. Tem zumbi para todo lado. É daí que se origina a necropolítica. Ela não é uma coisa que só se maneja no campo das gestões da política. É também uma força obscura que as pessoas admitem, cultivam e andam com ela por aí.

CC: É possível deter a sanha destrutiva do bolsonarismo?

AK: Tenho dificuldade de fazer um debate muito personalizado em cima de Trump, de Hitler ou de qualquer outro imbecil. Porque acho que é superestimar a potência negativa dessas coisas ambulantes. Se são metamorfoses ambulantes, vamos esperar que virem gente. Para podermos avaliar comportamentos que são, digamos, humanos ou possíveis de ser humanizados. Agora, debater coisas? É um trampo infeliz, por falar em Trump.

CC: A ideia de “uma nação que fica de pé”, uma remissão dos povos originários às florestas, está em franca ameaça pelo governo Bolsonaro. Por que eles estão conseguindo “passar a boiada”?

AK: Estão conseguindo passar a boiada à luz do dia. Toleramos a destruição da Mata Atlântica até ela ser reduzida a 12% ou 13% da sua cobertura original. Isso dá oportunidade para um ministro imbecil sobrevoar a Amazônia e dizer que 78% da floresta é Mata Atlântica. A frase é esquizofrênica. Mas, se uma pessoa que está ganhando dinheiro público pode falar asneiras e continuar tranquilo no cargo, então a gente chegou no fim do mundo.

CC: Como você tem acompanhado o avanço da Covid-19 sobre as periferias, sobretudo nas terras indígenas?

AK: Quando anunciaram a pandemia e ela começou a comer gente no Sudeste, no fundo pensei: “Ainda bem que o nosso povo está na floresta e aqueles que estão nas regiões mais remotas vão ficar protegidos”. A minha surpresa é admitir que a letalidade, quando chega na floresta, é muito maior do que quando afeta quem vive numa periferia urbana. Quem é que sabe quem está morrendo na periferia ou no centro? Quantos negros? Quantos brancos pobres? Quantos ricos? O IBGE, esses institutos nossos deveriam fazer uma diferenciação para que a gente não fique na mesma lógica do ministro (Ricardo) Salles, de que é para deixar passar a boiada. A boiada é indistinta, não tem personalidade. Nós não somos gado. O Brasil, o Estado brasileiro, as instituições, têm a obrigação de dizer a cor, a origem e o nome de quem está sendo jogado em vala comum e sendo enterrado por retroescavadeiras.



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 Livro de Ademar de Queiroz será lançado em cinco municípios de Goiás

 
                   

// por Larissa Mundim

 
Goiânia, Pirenópolis, Cidade de Goiás, Rio Verde e Santa Helena. Esta é a rota de lançamento do livro de Ademar de Queiroz, O baú do Menino Deus, entre 12 e 16 de fevereiro de 2020. Impressa em tinta e Braille, por meio de serigrafia, a obra literária de ficção reúne minicontos premiados sobre infância e memória. Publicada pela NegaLilu Editora, conta com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

 

Originalmente, os textos contidos em O baú do Menino Deus foram disponibilizados no Twitter e podem ser encontrados no perfil Minicontos do Demas. Por votação popular, o canal foi vencedor do Prêmio Top Blog 2015, concorrendo com autores e autoras de todo o Brasil. Segundo Ademar de Queiroz, goiano residente em São Paulo há mais de uma década, este foi um estímulo importante para a publicação de um livro dedicado a leitoras e leitores atraídos por curtas narrativas com densas camadas.

 

O baú do Menino Deus é um livro sobre liberdade. As histórias não começam no início, não terminam ao final, correm soltas, evocam lembranças, como retalhos de vidas que vão sendo guardados sem se entender o porquê. “Os minicontos construíram uma ponte entre o homem que sou e a criança que ainda vive em mim. Convido o leitor a reforçar ou reconstruir esta ponte a partir de O baú do Menino Deus”, ressalta Ademar.

 

O autor costuma dizer que seu livro contempla quem sabe ler nas entrelinhas e também quem lê com as mãos. Além do interesse por conteúdo instantâneo e arrebatador, o livro também contempla as necessidades de leitores cegos. A proposta de impressão em Braille feita pela NegaLilu Editora ao autor teve acolhimento imediato. Aquele seria o início de um longo processo de produção gráfica com inovação envolvendo a serigrafia e não a prensa.

 

“Originalmente, concebi um livro publicado em português e Braille, com celas (pontos) coloridas que, para os leitores videntes, teriam a função de ilustração”, comenta Larissa Mundim, coordenadora editorial de O baú do Menino Deus. Para consolidar o plano, ela contou com o apoio de profissionais da equipe da editora, a persistência de prestadores de serviço e a consultoria da Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, em Goiânia.

 

Ao despertar o interesse da Fundação Dorina Nowill para Cegos, o livro de Ademar de Queiroz teve pré-lançamento durante o II Encontro Nacional de Leitura Inclusiva, agosto de 2019, em São Paulo. Também já circulou por algumas das maiores feitas de publicações independentes do Brasil ‒ como a Miolo(s) e a MOTIM ‒ e agora os minicontos serão apresentados na terra natal do autor.

 

A agenda de lançamento se inicia por Goiânia, no dia 12 de fevereiro (quarta), às 19 horas, no Jardim, que fica no Evoé Café. Com a presença do autor, o evento prevê um bate-papo sobre O baú do Menino Deus: processo criativo, concepção do livro como objeto, inclusão e acessibilidade. Em seguida, Ademar e Larissa têm o mesmo compromisso na Avoar Livros (Pirenópolis), na Leodegária Livraria (Cidade de Goiás), no Aconchego e Sabor (Rio Verde) e na Casinha Feliz (Santa Helena).

 

Sobre o autor

Ademar de Queiroz nasceu em Santa Helena/GO, em 1966. Formado em Jornalismo – Comunicação Social pela UFG e atua na publicidade desde 1995. Embalado pela febre dos blogs, em 2006 começa a escrever Buarqueando e Cine Dema(i)s. Idealizador do canal Minicontos do Demas que, conquistou o 1º lugar na votação popular do Prêmio Top Blog 2015, um concurso que seleciona, recomenda e reconhece as melhores iniciativas de produção de conteúdo independente no Brasil em ambiente digital. A partir desse reconhecimento e da satisfação de dialogar com o leitor por meio de narrativas curtas, vem o desejo de reunir os minicontos em um livro. Começava ali a trajetória de O baú do Menino Deus.

 


Lançamento – O baú do Menino Deus

12/2 (quarta), às 19 horas, nO Jardim/Evoé Café (Goiânia)

13/2 (quinta), às 19 horas, na Avoar Livros (Pirenópolis)

14/2 (sexta), às 18 horas, na Livraria Leodegária (Cidade de Goiás)

15/2 (sábado), às 13 horas, no Aconchego e Sabor (Rio Verde)

16/2 (domingo), às 16h30, na Casinha Feliz (Santa Helena)

 

Formato: 20 x 20 cm

120 páginas

Impresso em tinta e Braille (serigrafia)

Preço de capa: R$ 50,00

 

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