Jornalista Suzana Velasco desenvolve pesquisa na Alemanha sobre a migração turca em Berlim
Mesmo no meio do clima frio e da garoa do inverno berlinense, a jornalista brasileira Suzana Velasco ferve pelo seu tema: a história da migração turca em Berlim através de entrevistas com imigrantes turcos de várias gerações que narram diferentes acontecimentos.
O que eles têm em comum? Depois do que eles passaram, como são representados na sociedade? Qual foi o impacto da divisão da cidade antes da Reunificação Alemã nas primeiras gerações de trabalhadores migrantes? E como a cidade influenciou na identidade dos descendentes turcos na Alemanha?
A jovem brasileira foi levada ao país germânico por meio do programa de estudo Bolsa da Chanceleria que a Fundação Alexander von Humboldt destina a jovens pesquisadores do Brasil, China, Índia, Rússia e Estados Unidos. A iniciativa concede aos candidatos a oportunidade de se conectarem com jovens líderes de outros países e pesquisarem sobre questões mundiais durante sua estadia no país. Para Velasco, uma dessas questões globais é a migração.
Segundo a jornalista, a maioria dos imigrantes turcos, que chegaram na Alemanha na década de 1960, eram trabalhadores homens com baixa qualificação. Mas, especificamente em Berlim, chegaram muitas mulheres instruídas, grupo que também interessou a bolsista da Fundação Humboldt.
“No Brasil, enfrentamos novamente uma onda migratória”, explica a jovem brasileira. Não chegam só muitos imigrantes sem qualificação, mas também médicos, por exemplo, que são destinados a suprir a falta de profissionais no mercado brasileiro.
“E a nossa sociedade não está preparada. Não há entidades que ajudem os recém-chegados como na Alemanha, nem estrutura. Aqui [na Alemanha], a migração é um assunto de todo dia na mídia e na sociedade. Para nós, brasileiros, isso ainda não acontece”.
Suzana Velasco já tinha escrito sua tese de mestrado em migração. Em seguida, iniciou sua carreira como jornalista para o jornal O Globo e foi à Alemanha em 2013 para um programa de intercâmbio de três meses. Na época, ela não aprendeu somente um pouco de alemão como também fez seu primeiro contato com sua atual organização anfitriã, a Rede de Migração Europeia (Netzwerk Migration in Europa) – uma ONG na qual trabalham cientistas e profissionais da área sobre aspectos da migração e integração.
Os bolsistas da Chancelaria escolhem o anfitrião por iniciativa própria, o que foi um grande desafio, mas também é uma grande chance: “O projeto deve ser bem pensado”, aconselha Velasco. “Depois, é preciso ter bastante foco para procurar uma ONG ou Instituição. Portanto, não escreva para muitos, mas pense bem para qual organização seu projeto seria mais interessante”.
Seguindo essa receita, segundo a brasileira, as chances de sucesso são grandes, uma vez que a situação é benéfica para ambos os lados. Mesmo aqueles que nunca estiveram na Alemanha não devem desistir. A Fundação Humboldt oferece ajuda na procura por instituições-anfitriãs.
Benefícios de agir em rede
De acordo com Velasco, os contatos adquiridos com outros bolsistas durante o programa são de grande valia. “Nos encontramos regularmente, trocamos experiências sobre nossos projetos e nos ajudamos mutuamente”, explica a jornalista, que tem um amigo alemão com quem divide moradia ao longo do intercâmbio. “Isso ajuda a criar novos contatos. Mas eu também desejo construir minha própria rede de contatos”.
A Chanceler alemã Angela Merkel aproveitou a vinda ao Rio de Janeiro na Copa do Mundo FIFA 2014 e encontrou pessoalmente a bolsista brasileira. “Pensei que seria um breve encontro. Mas ela foi extremamente aberta e cordial. Realmente se interessou pelo meu projeto e me fez perguntas sobre ele”.
Suzana Velasco tem grandes planos para seu ano em Berlim e é ativamente apoiada por seu anfitrião. As entrevistas com os imigrantes, por exemplo, serão conduzidas em alemão e posteriormente registradas em um Website de sua autoria. Informações sobre a origem da sua pesquisa já serão publicadas, no início de 2015, em um blog.
A programação que a jornalista pretende seguir é puxada. Entretanto, brinca Velasco, está de acordo com o que se espera de um jovem líder. “Estou muito satisfeita com a confiança que a Fundação nos concedeu e a liberdade que nós usufruímos em função dela”, afirma.
Para terminar o ano, está programado mais um encontro com a Chanceler. Na ocasião, a jornalista vai poder esclarecer muito mais sobre a migração turca em Berlim. E, após o intercâmbio, Velasco tem certeza de que enfrentará novas tarefas com mais experiência e autoconfiança, além de contar com todos os contatos da rede da Fundação Humboldt.
A Fundação Alexander von Humboldt concede a futuros líderes do Brasil, China, Índia, Rússia e Estados Unidos a oportunidade de realizar um projeto de pesquisa como convidado em cooperação com uma instituição-anfitriã do país. Com apoio do anfitrião, os bolsistas têm um ano para se concentrar em seus objetos de estudo, concebidos por iniciativa própria, e, assim, dar um impulso decisivo em suas carreiras. A Bolsa Chancelaria contempla várias áreas distintas como Política, Economia, Mídia, Administração ou Cultura.
O programa conta com o patrocínio da Chanceler da República Federal da Alemanha. O prazo para as inscrições da próxima edição encerra dia 15 de setembro.
Para mais informações, acesse: www.humboldt-foundation.de/youngleaders